quarta-feira, 3 de agosto de 2011

"Sabe qual é o meu sonho secreto? Que um dia você perceba que poderia ter aproveitado melhor a minha companhia (…) E eu me limito a me surpreender com as circunstâncias da vida que me levaram a viver esse papel: o da mulher que quer mais um pouquinho. Constrange-me existir nesse personagem Chico Buarque, dolorida, bonita sendo assim, meio tonta, meio insistente, até meio chata. E que fique claro que não é por estar você dessa forma, tão esquivo, que o desejo tanto. Desejo-o porque desejo. Estúpida. Latina. Bethânia. Ainda creio que você, quando eu menos esperar, possa me chegar com um verso em atitude."

Fernanda Young

sexta-feira, 29 de julho de 2011

"Antigamente quando eu me excedia ou fazia alguma coisa errada, naturalmente minha mãe dizia:
"Ele é uma criança, não entende nada."
Por dentro eu ria, satisfeito e mudo, eu era um homem e entendia tudo..
Hoje só com meus problemas, rezo muito, mas eu não me iludo..
Sempre me dizem quando fico sério:
"Ele é um homem e entende tudo."
Por dentro com a alma tarantada, sou uma criança, não entendo nada.."

Arnaldo Antunes

sábado, 23 de julho de 2011


"O amor é uma doença.
Eu sinto náuseas, febres, dores musculares.
Eu acordo assustada no meio da noite.
Eu choro à toa."

Tati Bernardi

terça-feira, 5 de julho de 2011

Quando até o menos é soma.

Por: Camila Paier

Uma vez, e não faz tanto tempo, alertaram como quem tenta salvar antes da inundação: ó, desse jeito vão enjoar. De novo ele? Mais uma vez? Vai cansar de você. Dá um tempo, respira longe, liberdade pro outro. Mas minha parte eu faço, oras. Fico um tantinho longe, faço mistério, trago novidades. Se a vontade de ficar juntos é uma constante e só aumenta -e nenhuma culpa nos chega, nenhum aviso é motivo plausível para briga qualquer coisa do tipo maléfico que tente uma separação precoce - que se há de fazer? Matar o tédio em conjunto, desmistificar o lado ainda não trajado do outro, deixar no seu colo as minhas horas para que você usufrua com apetite voraz os dias que nos são brindados em acabar com qualquer resquício de saudade nascida dentro das burocracias da semana atribulada.

Sei que, ao invés do tédio, uma vontade de ser assim pra sempre, não ter que largar nunca esse princípio de coisa que nasceu já certa e mesmo quando aperta, até quando ocasionalmente discorda, é um pedacinho perfeito de céu estrelado no meio de tanta nuvem escura. É muito querer pra um mais do mesmo - e que tem assim sido há semanas - em que não canso, nem desejo que pare: numa conta exata onde sobra muito pouco, e tanto se soma, acredito que quem sai ganhando somos os dois. E mesmo cheia de lucros e aprendizados, um sinalzinho de adição qualquer martela a cabeça, uma voracidade violenta qualquer não de pertencer ou estancar, mas sim dessa forma que tem sido continuar agregando até mesmo quando parece que se perdeu. E se encontrar até quando o menos, se torna de repente mais um pouco de nós. Dois.

Mais de você me cuidando para não sentir frio demais, esquentando minhas mãos quase sempre congeladas.. e me dando o chinelo felpudo porque é mais quentinho. Mais de nós dois nos olharmos até que o outro se desarme e sorria (ou eu pergunte "o quê?" e estrague a fascinação que, internamente, tilinta o momento). Mais a gente apertados num mesmo sofá e tapados num único cobertor - imergindo a preguiça um do outro e comentando com um humor de recém acordados os filmes ruins e seriados mal dublados. Menos gente se metendo e opiniando com velhos conceitos e novidades "bombásticas" por nós dois já conhecidas - e tão cúmplices somos, nem imaginam. Mais carne para você, e vinho para mim. Menos as ruas disformes e minhas meias-calças rasgadas ocasionalmente, mais de a gente torcendo um pelo outro, e se achando as criaturas mais lindas da face risonha da Terra, e querendo um ao outro que tá mais que ótimo. Mais você me buscando, e eu entrando no carro com a carinha de quem respira aliviada por tem algum refúgio dessa vida assoladora. Menos responsabilidades e aulas inúteis, mais nós dois pelos bancos da faculdade. Menos os dias de semana, mais os dias que a finalizam. Mais bergamota, menos tomate cereja (para mim) e cebola (para você). Mais o seu pé sem meia, menos eu quase caindo - e você avisando - da cama. Mais fotos de quando éramos pequenos e a vontade de se conhecer desde sempre, menos por não poder voltar no tempo e arquitetar algo que fizesse isso acontecer. Mais do seu perfume que me tira os sentidos, menos ele na minha pele e você já pelas ruas, distante. Mais de todas as carinhas que faço, e você se diverte; menos por não poder assistir nenhuma delas. Mais a medida das mãos, uma na outra. Mais deixar você livre e ainda assim, ver que assim como é você pra mim, muito mais que opção: uma escolha. Consciente, tranquila, bem-feita, contente e cada vez mais acertada, essa coisa de pecar por se querer assim perto quando dá, esquecer o mundo por ter nas mãos algo muito mais interessante. Uma porção de nós dois, por fa
vor. Sempre.

Tradução:

"E eu quero brincar de esconde-esconde, te emprestar minhas roupas, dizer que amo seus sapatos, sentar na escada enquanto você toma banho, e massagear seu pescoço. E beijar seu rosto, segurar sua mão e sair para andar. Não ligar quando você comer minha comida, e te encontrar numa lanchonete para falar sobre o dia. Falar sobre o seu dia e rir da sua, sua paranoia. E te dar fitas que você não ouve, ver filmes ótimos, ver filmes horríveis. E te contar sobre o programa de TV que assisti na noite anterior e não rir das suas piadas. Te querer pela manhã, mas deixar você dormir mais um pouco. Te dizer o quanto adoro seus olhos, seus lábios, seu pescoço, seus seios, sua bunda. Sentar na escada, fumando, até seus vizinhos chegarem em casa, sentar na escada, fumando, até você chegar em casa. Me preocupar quando você está atrasado, e ficar maravilhada quando você chega cedo. E te dar girassóis e ir à sua festa e dançar. Me arrepender quando estou errado e ficar feliz quando você me perdoa. Olhar suas fotos e querer ter te conhecido desde sempre. Ouvir sua voz no meu ouvido, sentir sua pele na minha pele, e ficar assustada quando você se irrita. E te dizer que você está linda, e te abraçar quando você estiver aflito, e te apoiar quando você estiver magoada, te querer quando te cheiro, e te irritar quando te toco e choramingar quando estou ao seu lado. E choramingar quando não estou. Debruçar-me no seu peito, te sufocar de noite e sentir frio quando você puxa o cobertor e sentir calor quando você não puxa. Me derreter quando você sorri, me desarmar quando você ri. Mas não entender como você pode achar que estou rejeitando você quando eu não estou te rejeitando, e pensar como você pôde pensar que alguma vez eu te rejeitaria. E me perguntar quem você é, mas te aceitar do mesmo jeito. E te contar sobre o "tree angel", "o menino da floresta encantada" que voou todo o oceano porque ele te amava. Comprar presentes que você não quer e devolvê-los de novo. E te pedir em casamento, e você dizer "não" de novo mas continuar pedindo, porque embora você ache que não era de verdade, sempre foi sério, desde a primeira vez que pedi. Ando pela cidade pensando. É vazio sem você mas eu quero o que você quiser e penso: estou me perdendo, mas vou contar o pior de mim e tentar dar o melhor de mim porque você não merece nada menos que isso. Responder suas perguntas quando prefiro não responder, e dizer a verdade mesmo que eu não queira, e tentar ser honesto porque sei que você prefere. E achar que tudo acabou, espere só mais dez minutos antes de me tirar da sua vida. Esquecer quem eu sou e me deixar tentar chegar mais perto de você. E de alguma forma, de alguma forma... de alguma forma compartilhar um pouco do irresistível, imortal, poderoso, incondicional, envolvente, enriquecedor, agregador, contínuo, infinito amor que eu tenho por você."
"Eu era uma esteta, não uma atleta, e meu único desejo era perambular em êxtase." 

C.Estés

segunda-feira, 4 de julho de 2011

"Dizem que a gente tem o que precisa. Não o que a gente quer. Tudo bem. Eu não preciso de muito. Eu não quero muito. Eu quero mais. Mais paz. Mais saúde.Mais dinheiro. Mais poesia. Mais verdade. Mais harmonia. Mais noites bem dormidas. Mais noites em claro. Mais eu. Mais você. Mais sorrisos, beijos e aquela rima grudada na boca. Eu quero nós. Mais nós. Grudados. Enrolados. Amarrados. Jogados no tapete da sala. Nós que não atam nem desatam. Eu quero pouco e quero mais. Quero você. Quero eu. Quero domingos de manhã. Quero cama desarrumada, lençol, café e travesseiro. Quero seu beijo. Quero seu cheiro. Quero aquele olhar que não cansa, o desejo que escorre pela boca e o minuto no segundo seguinte: nada é muito quando é demais."

Caio Fernando Abreu