"Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos."
Eu preciso aprender a ser menos.
Menos dramática.
Menos intensa.
Menos exagerada.
Alguém já desejou isso na vida:
ser menos?
Pois é. Estranho.
Mas eu preciso.
Nesse minuto, nesse segundo, por favor,
me bloqueie o coração,
me cale o pensamento,
me dê uma droga forte
para tranqüilizar a alma.
Porque eu preciso.
E preciso muito.
Eu preciso diminuir o ritmo, abaixar o volume,
andar na velocidade permitida,
não atropelar quem chega,
não tropeçar em mim mesma.
Eu preciso respirar.
Me aperte o pause, me deixe em stand by,
eu não dou conta do meu coração que quer muito.
Eu preciso desatar o nó.
Eu preciso sentir menos, sonhar menos, amar menos,
sofrer menos ainda.
Aonde está a placa de PARE bem no meio da minha frase?
Confesso: eu não consigo.
Nada em mim pára, nada em mim é morno, nada é pouco,
não existe sinal vermelho no meu
caminho que se abre e me chama.
E eu vou...
Com o coração na mochila, o lápis borrado, o sorriso e a dúvida,
a coragem e o medo, mas vou...
Não digo: "estou indo",
não digo: "daqui a pouco",
nada tem hora a não ser agora.
Existe aí algum remedinho para não-sentir?
Existe alguma terapia, acupuntura,
pedras, cores e aromas para me calar a alma
e deixar mudo o pensamento?
Quer saber?
Existe.
Existe e eu preciso,
Preciso e não quero.
[Fernanda Mello]