"O amor é sofrível. Hei-de acreditar sempre nisto. Onde quer que haja amor, ele acabará, mais tarde ou mais cedo, por ser sofrível. É melhor do que morrer. Há coisas, como o álcool e os livros, que continuam boas. A morte é mais aborrecida. Porque é que matamos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja pelo menos parcialmente doentio. Tem de haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado sofrível pode ser a coisa mais bonita deste mundo."
[Miguel Esteves Cardoso]
"Todos os dias, arquiteto, peça por peça, um sorriso ( custa muito um sorriso). Custa muito quando se tem consciência que o tempo é insuficiente. E o relógio um utensílio doméstico da angústia. A angústia de ter perdido pra sempre dos olhos a luz que insidia o futuro. A angústia de ter perdido horas em insistente sonolência. A angústia de vislumbrar, enfim, que perdera muito tempo. E o tempo é escasso. Perdeu-se, porém, algo mais precioso. O deslumbramento por suas recordações. Bem, essas não passam de lágrimas perdidas. Isso porque sou vítima de sonhos dilacerados e esperanças aliadas.
Agora só dias sem história e o aprendizado tirado das imensas ilusões ou de “grandes esperanças”. E como não falar da futilidade das pessoas. Pra essas construo esse sorriso. Esse sorriso engasgado e que dilacera a alma. Doe muito as engrenagens da boca ao formá-lo, assim, tão barato. Futilidade minha. Insistência essa de ainda tentar viver em meio às pessoas. No convívio normal. Cada vez mais uma vida eremita me apetece de ser sonhada. Isso porque no meio das multidões e gargalhadas, só ouço meu nome sendo gritado, e evidencio a dimensão assombrosa do meu vazio. Tão monstruoso e colossal ali à frente, que é impossível não reparar nele. Quero falar coisas que sejam verdadeiras, quero não ser mais uma a queixar-se da vida, pelo o que não tem, quero ser salva antes que o cinismo tome conta de mim, quero me livrar da minha ironia.
Um dia disseram-me que sou muito transparente. Isso porque coro, choro e rio com muita facilidade. Mas, estou deixando de ser. Era transparente. Os dias vazios têm tipo efeitos pesados. Eles me deixaram mais obscura e opaca. Mas, o que mais me atormenta são os silêncios. Queria quebrar vários silêncios, os meus pra começo de conversa. Eu sei que nem todas as pessoas percebem esses silêncios. Os confundem com tristeza. Talvez. Mas só a tristeza de não saber como tocar no fundo da sua alma. Sem palavras. Dêem-me, por favor, um sorriso verdadeiro (diferente desse meu). Capaz de garantir que tudo vai ficar bem."
[Lia Araújo]
Agora só dias sem história e o aprendizado tirado das imensas ilusões ou de “grandes esperanças”. E como não falar da futilidade das pessoas. Pra essas construo esse sorriso. Esse sorriso engasgado e que dilacera a alma. Doe muito as engrenagens da boca ao formá-lo, assim, tão barato. Futilidade minha. Insistência essa de ainda tentar viver em meio às pessoas. No convívio normal. Cada vez mais uma vida eremita me apetece de ser sonhada. Isso porque no meio das multidões e gargalhadas, só ouço meu nome sendo gritado, e evidencio a dimensão assombrosa do meu vazio. Tão monstruoso e colossal ali à frente, que é impossível não reparar nele. Quero falar coisas que sejam verdadeiras, quero não ser mais uma a queixar-se da vida, pelo o que não tem, quero ser salva antes que o cinismo tome conta de mim, quero me livrar da minha ironia.
Um dia disseram-me que sou muito transparente. Isso porque coro, choro e rio com muita facilidade. Mas, estou deixando de ser. Era transparente. Os dias vazios têm tipo efeitos pesados. Eles me deixaram mais obscura e opaca. Mas, o que mais me atormenta são os silêncios. Queria quebrar vários silêncios, os meus pra começo de conversa. Eu sei que nem todas as pessoas percebem esses silêncios. Os confundem com tristeza. Talvez. Mas só a tristeza de não saber como tocar no fundo da sua alma. Sem palavras. Dêem-me, por favor, um sorriso verdadeiro (diferente desse meu). Capaz de garantir que tudo vai ficar bem."
[Lia Araújo]
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