“Você me pergunta “sairei do buraco?”. Sairá, sim. Sairá brilhantemente. As coisas agora vão começar a acontecer, é meio tipo ímã, uma coisinha vai magnetizando outra e outra e outra, você vai ver.”
[Caio Fernando Abreu]
[Caio Fernando Abreu]
"O caminho foi longo, tortuoso e íngreme...
Teve lágrimas. Teve sorrisos. Teve ansiedade. Teve borboletas doidinhas. Teve céu de abril e teve chuva. Teve pedra. Teve flor. Mas, hoje posso dizer com os pulmões cheios de ar e um sorriso mordido:
Refiz a trajetória e desfiz o fio da meada...até o início de quem eu sou.
Agora, sou eu sozinha. E isso não me parece ruim. Cansei de esperar por alguém que só a ausência me faz companhia. Eu sei que amar não tem remédio. Mas, eu posso encontrar meios alternativos de tratamento. Pode parecer egoísmo. Não é. É só cansaço. E hoje eu sinto que o cansaço antecede o tédio. Eu sei que amor não é só bonito. É feio também. Sei que não existe amor sem história, sem coração pingando, sem olhos vermelhos, sem nariz entupido de tanto choro. Sei que amores desesperados são os mais difíceis de superação. Eu disse difícil. Não impossível. E como você já deve ter percebido eu sou persistente. Eu sou daquelas pessoas que pertencem a um lugar só. Mas, não me querem nele. Como os gregos tentando retornar a Ítaca. Sou ausente, mesmo presente. Sou este partir. Sou esse ficar. E o navio que me levou não voltará. E o porto não há mais. Sinto-me incompleta. Amputada de uma parte minha que não há mais e que me dói, tê-la perdida. Pode parecer amargo. Mas, não é. É necessário. Vou ter que reaprender a olhar sem você aqui por perto. Ver com mais maturidade. Receber com menos sofrimento. Acreditar com menos ilusões. Viver com mais tranqüilidade. E reaprender a sorrir com doçura e nenhum vestígio de dor. Vou ser livre para traçar meus próprios labirintos. Vou andar mais perdida, solitária e estranha na minha própria pátria. Aliás, vou sentir saudades de um país que não existe. Serei liberta. Estou me libertando dessa servidão voluntária. E para ser livre se tem que ter autonomia e segurança. Os meus problemas serão pequenos. Viver não doerá mais. Sua indiferença também não. Vou aceitar a verdade indubitável. Nossas vidas serão eternamente duas. Não teremos jardim para ilustrar uma casa que também nunca existirá. Cansei de insistir no impossível. Cansei de acreditar no improvável. Depois de repetidas vezes persistindo no mesmo erro... o melhor é desistir. Você pode até me chamar de covarde. Mas, meu maior dom foi ter a coragem de arriscar tudo, aceitar que a crueldade do amor me fez meio sozinha no mundo. Mas, estou com a consciência tranqüila. E em pouco tempo o coração também estará. Vou parar de esmurrar a ponta dessa faca enferrujada. Vou ali, lavar o sangue seco das minhas mãos. Vou aproveitar e espremer toda a água escura do meu coração e amanhã colocá-lo ao sol.
...
Amém."
(Lia Araújo)
Teve lágrimas. Teve sorrisos. Teve ansiedade. Teve borboletas doidinhas. Teve céu de abril e teve chuva. Teve pedra. Teve flor. Mas, hoje posso dizer com os pulmões cheios de ar e um sorriso mordido:
Refiz a trajetória e desfiz o fio da meada...até o início de quem eu sou.
Agora, sou eu sozinha. E isso não me parece ruim. Cansei de esperar por alguém que só a ausência me faz companhia. Eu sei que amar não tem remédio. Mas, eu posso encontrar meios alternativos de tratamento. Pode parecer egoísmo. Não é. É só cansaço. E hoje eu sinto que o cansaço antecede o tédio. Eu sei que amor não é só bonito. É feio também. Sei que não existe amor sem história, sem coração pingando, sem olhos vermelhos, sem nariz entupido de tanto choro. Sei que amores desesperados são os mais difíceis de superação. Eu disse difícil. Não impossível. E como você já deve ter percebido eu sou persistente. Eu sou daquelas pessoas que pertencem a um lugar só. Mas, não me querem nele. Como os gregos tentando retornar a Ítaca. Sou ausente, mesmo presente. Sou este partir. Sou esse ficar. E o navio que me levou não voltará. E o porto não há mais. Sinto-me incompleta. Amputada de uma parte minha que não há mais e que me dói, tê-la perdida. Pode parecer amargo. Mas, não é. É necessário. Vou ter que reaprender a olhar sem você aqui por perto. Ver com mais maturidade. Receber com menos sofrimento. Acreditar com menos ilusões. Viver com mais tranqüilidade. E reaprender a sorrir com doçura e nenhum vestígio de dor. Vou ser livre para traçar meus próprios labirintos. Vou andar mais perdida, solitária e estranha na minha própria pátria. Aliás, vou sentir saudades de um país que não existe. Serei liberta. Estou me libertando dessa servidão voluntária. E para ser livre se tem que ter autonomia e segurança. Os meus problemas serão pequenos. Viver não doerá mais. Sua indiferença também não. Vou aceitar a verdade indubitável. Nossas vidas serão eternamente duas. Não teremos jardim para ilustrar uma casa que também nunca existirá. Cansei de insistir no impossível. Cansei de acreditar no improvável. Depois de repetidas vezes persistindo no mesmo erro... o melhor é desistir. Você pode até me chamar de covarde. Mas, meu maior dom foi ter a coragem de arriscar tudo, aceitar que a crueldade do amor me fez meio sozinha no mundo. Mas, estou com a consciência tranqüila. E em pouco tempo o coração também estará. Vou parar de esmurrar a ponta dessa faca enferrujada. Vou ali, lavar o sangue seco das minhas mãos. Vou aproveitar e espremer toda a água escura do meu coração e amanhã colocá-lo ao sol.
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Amém."
(Lia Araújo)
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