terça-feira, 26 de outubro de 2010

"Como se todas as estrelas se apagassem!"


"Descubro com melancolia que meu egoísmo não é tão grande assim, pois dei ao outro o poder de me magoar.
Menininha, foi com carinho que lhe dei esse poder. É com melancolia que a vejo usá-lo.
Os contos de fadas são assim. Uma manhã, a gente acorda e diz:
“ Era só um conto de fadas...” E a gente sorri de si mesma. Mas, no fundo, não estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade da vida.

A espera. Os passos leves. Depois as horas que correm frescas como um riacho em meio à relva sobre os seixos brancos. Os sorrisos, as palavras sem importância que são tão importantes. Escutamos a música do coração: é linda, linda para quem sabe ouvir...
Queremos muitas coisas, é claro. Queremos colher todos os frutos e todas as flores. Queremos sentir o cheiro de todos os campos. Queremos brincar. Será mesmo brincar? Nunca sabemos onde começa a brincadeira nem onde ela acaba, mas sabemos que somos carinhosos. E ficamos felizes.
Não gosto da estação interior que substituiu minha primavera: uma mistura de decepção, de secura e de rancor. Mergulho num tempo vazio onde não tenho mais motivo pra sonhar. O mais triste num sofrimento é se perguntar: “Vale a pena?”...
Vale a pena todo esse sofrimento Por quem nem mesmo pensa em me avisar? Certamente não. Então, nem sofrimento se tem mais, e isto é ainda mais triste.
Não há pequeno príncipe hoje, nem haverá nunca mais. O pequeno príncipe morreu. Ou então, tornou-se muito cético. Um pequeno príncipe cético não é mais um pequeno príncipe. Fiquei magoada com você por tê-lo destruído.

Também não haverá mais carta, nem telefonema, nem sinal. Não fui muito prudente, e não pensei que pouco a pouco, com isso arriscava um pouco de sofrimento. Mas, eis que me feri na roseira à colher uma rosa.
A roseira dirá: “Que importância eu tinha para você”?Chupo meu dedo, que sangra um pouquinho, e respondo: “Nenhuma, roseira, nenhuma. Nada tem importância na vida. (nem mesmo a vida.) Adeus, roseira.”

[  Antonie de Saint- Exupéry - O amor do Pequeno Príncipe: Cartas a uma desconhecida]


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